Quem escreve estas linhas, nom é amante da tauromaquia nem de qualquer tipo de festa onde se exiba a crueldade e o asanhamento com animais. Deo gratia, na Gallaecia, a afeiçom às corridas de touros som umha minoria e com escassa implantaçom.
Em cidades como Crunha ou Ponte Vedra, as únicas com corridas de touros na Gallaecia, ditos eventos som subvencionados por tudos os contribuintes. As praças de touros existentes derruirom-se devido a que nom eram rentáveis. E as corridas actuais na Gallaecia geram muitas perdas económicas. Os toureiros cobram e ganham o seu, os empresários do sector cobram e embolsam dinheiro e o cidadam galaico paga por algo alheio, que nom pertence nem às suas tradiçons, nem aos seus íntimos sentimentos, nem a sua cultura. Pagamos a grande maioria dos galaicos por algo que nem nos interessa nem vemos arte algum na praça taurina. Por algo que nom forma parte da nossa identidade galaica. Na Gallaecia nom faz falha algumha debater se proibir ou nom as corridas, simplesmente quebraria-se o empresário que nom conta-se com a ajuda económica da Administraçom. Por muito que magistralmente explique Sánchez-Dragó as suas origens cretenses ou pretéritos ritos mitraicos, sigo na opiniom que é algo alheio à alma atlântica galaica. Pois é que as raízes da identidade galaica tenme a sua origem no arco atlântico céltigo e assim pois é diferente neste sentido da mediterrânea, onde sim que tem arraigo esse tipo de celebraçom. Existem duas festas ancestrais na Gallaecia onde os animais som os protagonistas. Umha tem origem no medievo: A festa do boi de Alhariz. A outra é de origem céltigo e de maior difusom ao longo e grosso da naçom galaica: A rapa das bestas, dos cabalos salvagens. Nas duas festas, lógicamente com diferenças, o valor do moço, do homem em presença do animal é o denominador comúm como rito de passo, quase prova iniciática. E curiosamente, ainda que os “verme-verdes” ecologistas protestem pelo maltrato animal, o certo é que nom existe sacrifício algum nem o sangue do animal ve-se por nengures. Som festas estas onde a valentia e a coragem do homem, enfrenta-se ao animal enrabechado.
A FESTA DO BOI
A festa do boi, festeja-se na vila ourensã de Alhariz. Dita vila é exemplo na actualidade de como deve conservar-se e restaurar-se o legado etnográfico, artístico e paisagístico da naçom galaica. Permitase-nos aconselhar a sua visita, calejar entre casas com história, visitar a fundaçom do ilustre etnógrafo e nacionalista genuino Vicente Risco e enfeitizar-se à beira do seu rio… nom ficará ninguem decepcionado. As origens desta festa tem as suas raízes na idade média. Conta a lenda que a festa tivo a sua origem a raiz das brincadeiras, insultos e escárnios que a colónia judea fazia os cristians que iam em processom pela festa do Corpus. Quando dita processom pasava pela zona de Socastelo, parte esta da judiaria, os ánimos caldeavam-se em excesso. E neste que apareceu umha personagem, Joam de Arzúa, homem de convicçons religiosas e disposto a ponher fim aos insultos dos hebreus irrespeituosos. Assim pois um ano saiu montado num boi com sacos de formigas e cinza, que lançou sobre aqueles que alteravam a orde da procesom. Como recordo deste incidente, assim na festa do Corpus, corria-se um touro ou um boi (como sucede nos sanfermins pamplonicas em Baskonia) pelas ruas da vila. Joam de Arzúa deixou parte do seu capital em terras e com as rentas pagava-se o aluguer do boi assim como outros gastos da festividade do Corpus, que administrava o Concelho. Desconhece-se quando deixou de festejar-se a festa do Boi em Alhariz, mas mantivo-se viva dalgumha maneira posto que a recuperaçom da festa tivo lugar alá polo ano 1983, mercê à vontade e iniciativa duns grupos de vizinhos alaricans, que desde sempre ouvirom falar com nostálgia a os seus maiores, posto que pervivia na memória colectiva dos habitantes dessa belísima vila ourensã. No começo, a festa durava tres dias e com o apogeu, difusom e participaçom, passado na actualidade a nada mais e nada menos que a 9 dias de festa. A “Festa do Boi”- de Alhariz, foi declarada festa de interese turístico pela Junta da Galiza o 18 de Maio de 2006. E segundo a web oficial de Alhariz, isto ajudou bastante, mas nom foi umha ajuda económica e si a afirmaçom e o prestígio dos habitantes de Alhariz por manter viva a sua identidade e tradiçom.
A RAPA DAS BESTAS
Intue-se a origem desta festa, onde homem e cavalo som os protagonistas. O certo é que segundo alguns antropólogos, teriamos-nos que remontar no tempo para atopar este tipo de festejo nada mais nem nada menos que na Idade do Bronce. Nesta festa podemos observar que ademais de rito de passo, propriamente dito, poderia considerar-se nas suas origens míticos como umha autêntica prova iniciática -que viria a dizer-nos Mircea Elíade- onde o moço doma a um animal salvagem, no transcurso do seu caminho iniciático. Assim pois, o moço é “iniciado” na madureza, na sua experiência de se converter num luitador. Ingressa com este rito de passo na comunidade do seu povo ou aldeia, na vivência da luita cum animal salvagem ao que enfrontar-se e someter pola sua própria força e habilidade para tumbâ-lo. Realiza com este rito a vitória e o triunfo e assim autoafirma-se como varóm na procura da sua própria identidade. E assim veriamos que na Galiza pervive essa alma céltiga e atlântica que tem nesta festa grandes analogias com a tradiçom irlandesa. O rito da rapa das bestas, dos cavalos salvagens criados nas montanhas galaicas, consiste em “marcar” e “curtar-rapar” a coma dos animais. E todo isto tem lugar no curro, é dizer, o recinto onde som acurralados os cavalos e os seus poldros. E a tempada onde o denominador comúm é o mesmo, é o verão, quando os homens sobem a montes e montanhas na procura de animais para baixá-los às aldeias situadas nas beiras dos vales e nos curros, realizar dito acontecimento. Primeiramente os vizinhos localizam as manadas de cavalos. De seguido apertam o cocho lentamente para assim poder encaminhar às manadas cara umhas correidoras que lhes levarám aos curros e assim ali poder “cabalgar e domar” aos animais. É esta umha festa típica do norte e do centro de Galiza. Som de destacar entre várias, as seguintes: Na Crunha, festejam-se estas rapas em A Capelada (Cedeira), Campo da Areosa (Vimianço) e As Canhizadas (Póvoa do Caraminhal). Na de Lugo, temos a de Candaoso (Viveiro), Campo do Oso (Mondonhedo) e Sam Tomé (Valadouro), mentres que na zona de Ponte Vedra, temos a mais conhecida, que é a de Sabucedo (A Estrada), Mougas (Oia), Morgadans, O Galinheiro e Sam Cibrão(Gondomar), Monte Castelo (Cotobade), Paradanta (A Canhiça) e a de Domaio (Moanha). Algum vezeiro dirá que um cavalo nom tem o mesmo perigo cum touro, já que o touro de lidia pesa mais quilos, turra feramente e tem cornos… nom é comparável, certamente. Mas um cavalo salvagem também tem as suas boas defesas. Dumha boa couce dum cavalo podem chegar ou umhas costelas rotas, ou umha faciana destroçada, ou uns intestinos estourados ou incluso a própria morte. Estas festas da “rapa das bestas” conservam todavia essa alma rural, essa evocaçom céltiga, essa magia festiva improvisada que é essência da profundidade da identidade galaica.
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